ARQUIVO 3 - LIVRO INFANTIL - SUPER-HERÓIS DESENGONÇADOS (entrevistas exclusivas)
Outros heróis preferiram participar de palestras sobre as mais recentes novidades sobre armas – raios, mísseis, foguetes, carros voadores, para citar os mais comuns. Outros demonstraram golpes perfeitos como sopros contaminados, pontapés, chulés, safanões safados, sopapos, beliscões, rabos-de-arraia, puxões de orelha e tipos de mordida, tudo na santa paz e a serviço da humanidade.
Os heróis de um certo país não apresentaram nada de novo: quando pediram que eles falassem algo para o público, gaguejaram, tossiram, deram faniquitos, se engasgaram, começaram a ficar roxos, passando a verde, e parando no branco azedo. Aí, nossos bravos heróis saíram de fininho, se misturaram à galera, aproveitando a chance para tirar fotos ao lado dos outros heróis. Depois, esperaram a festa de encerramento do Congresso para filar a bóia: comer coxinhas de galinha, canapés, pastéis, empadinhas e bolinhos de bacalhau. Também beberam refrigerante de graça, pois, afinal de contas, foram lá para isso mesmo!
De volta a minha terra, como repórter, tive a idéia de escrever um livro, revelando o jeito de ser desses heróis, defensores de nossos direitos. Eis, então, que, para vocês, fãs de bravura e de guerreiros de honra, apresento uma matéria especial: sete entrevistas exclusivas, registrando o comportamento, os desejos e segredos de valorosos heróis.
“Veja: o pum cósmico vem de uma mistura paralisante que faço. É um gás aromático usado por mim e por meu ajudante, o Pum-Boy. Durante três dias tomamos um composto feito com cebola, alho, repolho, queijo ralado, pimenta-do-reino, dobradinha cozida sem sal e suco de acerola. Quando vamos entrar em ação, usamos esta arma: três puns são o bastante para fazer o criminoso desistir de seu intento e se entregar em troca de uma máscara de gás. Em certos casos, quando o adversário é tinhoso, utilizamos o traque-dragão, que é dez vezes mais poderoso que o pum cósmico porque tem mais substâncias no composto que tomamos. Mas veja bem: isso só em caso de extrema emergência.”
“Meu amigo, se você quer se tornar um super-herói, você deve pensar muito no assunto. Eu aconselho você a desistir. É melhor estudar e garantir o seu futuro. Está dificílimo ser herói por causa da concorrência, afinal, há tantos heróis japoneses por aí: acaba fechando o mercado de trabalho. Eu, por exemplo, estou desempregado como herói. Minhas pulgas trabalham em um circo lá perto de casa. Pelo menos nisso elas estão bem. Desista de ser herói, mas leve a vida com poesia, porque isso é muito importante. Eu, sempre que estou borocochô, faço uns poemas e alivio os aborrecimentos. Veja só um poema que fiz na semana passada. Ele se chama Estrelas:
“Seu minino, eu tenho uma indentidade que num posso revelá, mas donde venho os minino tudo se chama Zé, Chico, Tonho ou Verino. Meu nome pode sê um desses. Se quisé, pode me chamá de Skeleton-X num sabe?”
“Ah, eu gosto de tanta comida: vatapá, bobó de camarão, caruru, munguzá, acarajé, beiju, jabá com jerimum, feijoada, churrasco, tutu e couve à mineira, moqueca, pirão, melado, sarapatel, tacacá...”
Tou satisfeito com aquilo que você tá fazendo por mim e pela galera. Sei que a parada é difícil, porque as crianças estão esquecendo as tradições populares. Elas só querem saber de televisão, vídeogame, computador, e, na hora de escutar umas boas histórias do folclore, acham que é coisa antiga e careta, que é coisa de mané. Fazer o quê, se elas são ensinadas assim, né? É uma pena. Aí, cumpade, a gente sabe que nossas histórias são sinistras, mas eles, não. Eu, por exemplo, já escutei milhões de vezes os casos fantásticos da dona Cuca, mas sempre que escuto novamente, me dá um negócio por dentro, um friozinho de fazer arrepiar até os cabelos do sovaco.
Branco criou, então, reserva pra índio viver sem perigo, só no sossego. Pela terceira vez, digo “conversa fiada”. Promessa de se perder no vento. Coisa prometida, falada por espíritos ruim. Hoje, o que índio vê é invasões na tal reserva de paz e sossego. Doença adormece tudo, guerreiro anda cansado, cacique fuma cigarro, de paz ninguém vê falar. Cacique anda nervoso, com pensamento malvado: pegar e prender donos de fazenda pra chamar atenção do mundo, das pessoas de muito longe e além do mar.
Assim como jovem cunhã quer viver de amor pelo seu amado, grande guerreiro, assim também todo ser vivente ter vontade de achar seu par: seja onça, peixe, macaca, aves, toda fêmea, toda. Deu, então, a natureza, vontade pra arara cor-de-céu fazer seu ninho de amor com belo esposo.
2 comentários:
Adorei o livro. Ele é muito criativo e faz a gente viajar no mundo infantil.
Li hoje o livro - Super heróis desengonçados, a Fábia gostou muito e morreu de rir, o héroi preferido dela foi o Capitão Pum. Parabéns!
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